Trânsito no Padreco: quem poderá nos ajudar?

Será que só o personagem criado por Roberto Bolaños (1929-2014)? No bairro que homenageia um beato que  para os fiéis já é santo, o trânsito é um inferno. Corredores importantes, como Via-Expressa e Pedro II, já não suportam a quantidade de veículos. E ruas locais se transformaram em rotas movimentadas. Por que o caos?

Há pelo menos três justificativas, segundo especialistas. Primeira: só a frota do terceiro bairro mais populoso de Belo Horizonte, com quase 30 mil habitantes, segundo o último censo (2010) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), é suficiente para causar retenções nos horários de picos.

Vila Rica: rua é palco de retenções diárias

Mas aí entra o segundo problema: o vaivém de veículos fica mais caótico porque o Padre Eustáquio é uma área de passagem para bairros vizinhos e locais de grande concentração de pessoas, como a PUC.

Outra justificativa é o conjunto de gargalos que dependem de obras para serem resolvidos. É o que ocorre na Via Expressa, sentido Contagem, pouco depois do cruzamento com a rua Ingaí. Uma das quatro faixas desaparece em razão da parte aberta do leito do Arrudas, o que causa estrangulamento no fluxo.

O mesmo ocorre no encontro da avenida Tancredo Neves com a Pedro II, sentido Centro, onde uma das quatro faixas desaparece.

As três justificativas, sobretudo a do conjunto de gargalos e a do bairro de passagem, geram lentidão rotineira na Via Expressa, na avenida Pedro II e na rua Padre Eustáquio.

Resultado: motoristas procuram rotas alternativas dentro do próprio bairro.  Daí surge outro problema: ruas planejadas para o trânsito local recebem um fluxo acima do projetado. “E nem sempre as vias locais têm sinalização para um alto tráfego, o que gera atraso nas interseções”, explicou Charliston Marques, engenheiro e mestre em engenharia de transporte.

O tráfego de veículos acima do ideal causa dor de cabeça aos moradores de artérias como a Hamaitá, Tuiuti, Jacutinga, entre outras. Eles têm dificuldades para entrar e sair com o carro da garagem.

O publicitário Glauber Teixeira, de 34 anos, mora na rua Henrique Gorceix: “Está cada vez mais difícil entrar e sair de casa. Afinal, estamos num lugar que é rota de fuga para o Centro, Anel Rodoviário, PUC… A quantidade de ônibus que passa aqui também influencia”.

Para melhorar o trânsito tanto no Padre Eustáquio quanto em outras partes da cidade, a solução recomendada por Frederico Rodrigues, engenheiro com doutorado no assunto, é o investimento em transporte público e a retirada de projetos do papel.

É o caso do Programa de Vias Prioritárias de Belo Horizonte, o Viurbs, também chamado de Corta Caminho. Um exemplo local, cita Rodrigues, é a Via 800, projetada para ligar a avenida Carlos Luz, no Caiçara, à Barão Homem de Melo, na região Oeste de BH, por meio de um túnel.

“Isso iria retirar o tráfego de passagem”, disse Frederico, reforçando a necessidade de investimento também no transporte público. A BHTrans tenta melhorar o tráfego na região. Na Pedro II, por exemplo, implantou a pista exclusiva para ônibus.

É certo que o tempo das viagens nos coletivos que percorrem as vias encurtou, mas a qualidade do transporte público, considerada baixa por muitos usuários, e o preço das tarifas, considerado alto por boa parte dos passageiros, não estimularam os condutores a deixar os carros na garagem.

Tanto que a frota de veículos em BH aumentou 74% nos últimos 10 anos. Subiu de 1.020.465 unidades, em 2007, para 1.778.298 em 2017, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Moradores, visitantes e motorista torcem para um final feliz. Do contrário, terão de recorrer a Chapolim Colorado?

 

 

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