Ninguém corta o abacateiro de seu Alberto

Quiseram derrubar a árvore na Praça Rio Alto. Você acha que ele deixou?

A semente que Alberto plantou rendeu uma árvore frondosa

O mecânico Alberto Soares Silva, de 65 anos, é conhecido pela boa prosa. É gente da melhor qualidade, como dizem os mais antigos. Morador há quatro décadas no bairro Padre Eustáquio, coleciona diversas histórias sobre a região. Uma delas tem como personagem principal um abacateiro.

O enredo começou há quase sete anos. Seu Alberto cruzou o caminho de uma semente do fruto jogada na rua e não teve dúvidas em pegá-la e plantá-la no centro da pequena Praça Rio Alto, no encontro das ruas Tuiuti e Benfica, bem em frente à oficina de carros em que ganha a vida.

A semente vingou, virou árvore frondosa e vive rodeada de pessoas quando chega a época da colheita.

“Este ano haverá muito abacate. Bem mais do que nos anos anteriores. Veja como está florido. Um tanto de gente aparece para pegá-los. Eu também levo para casa”, conta Alberto, que mora na rua Riachuelo. Quando ele jogou a semente na terra, recorda, teve cuidado de não contar para as pessoas que a árvore era frutífera. Queria evitar que alguém pudesse levar a muda.

Também ficou receoso de que as pessoas jogassem pedras para derrubar os frutos. Mas não houve como esconder por muito tempo. Logo que os primeiros abacates começaram

 

a surgir, a comunidade não tibuteou: apareceu gente de tudo quanto é lugar da região em busca dos frutos. Foi uma festa só.

Mas nem tudo é alegria na vida do abacateiro. Seu Alberto conta que pessoas que ele desconhece chegaram uma vez à praça dizendo que iriam cortar a árvore. Foi aí que o pequeno empresário, gente de largo sorriso, ficou sério.

Alberto não gostou do que ouviu: “Falaram que tinha gente jogando pedras no abacateiro, na intenção de derrubar as frutas, e que poderia acertar casas, carros e pessoas. Mas é mentira. Ninguém jogou pedras”.

A recordação o tira do sério: “Não deixei cortarem a árvore. Nem deixarei”. O protetor da árvore plantou a semente no centro da praça, onde já houve outra imensa árvore, destruída por vândalos. “Um pessoal colocou fogo e ela ficou podre. Não sobreviveu e precisou ser retirada”.

Seu Alberto não é o protetor somente do abacateiro. Também de um ipê roxo que ele plantou na Rio Alto. O homem acredita que as duas árvores vingaram porque o subsolo no entorno da praça tem grande reservatório de água. Faz sentido: a Rio Alto fica a poucos metros do Ribeirão Arrudas.

Mas o que importa para seu Alberto é a permanência do abacateiro: “Que ninguém ouse derrubá-lo”.