Kalil briga por Anel Rodoviário na Justiça

Passou da hora de pôr fim à carnificina no Anel Rodoviário de Belo Horizonte: 319 pessoas morreram e 10.209 ficaram feridas nos últimos 10 anos (2007 a 2016), segundo a Polícia Militar Rodoviária. Seus 27 quilômetros se tornaram armadilhas para moradores do Padre Eustáquio, Caiçara e dezenas de outros bairros cortados pelo corredor viário mais movimentado da capital, por onde passam cerca de 160 mil veículos diariamente.

Anel Rodoviário de BH: perigo em série. Foto: Paulo Henrique Lobato

Os acidentes travam a economia da cidade e ceifam vidas de inocentes que pagam impostos, cuja parte do dinheiro deveria ser revertida em melhorias na via. Entretanto, nos últimos 10 anos, enquanto uma parcela significativa dos tributos foi jogada no ralo da corrupção, 25.219 acidentes foram registrados na malha.
O trecho mais perigoso é o da descida do bairro Betânia, onde há diversas ocorrências de carretas que perderam o freio e esmagaram carros de passeio como se fossem brinquedos de plástico.
Mas longe de lá, em trechos dos bairros Dom Bosco, Carlos Prates e Caiçara, o perigo também é real. Uma das armadilhas é o estreitamento de pista no viaduto sobre a avenida Ivaí. Há o chamado estrangulamento de pista, com redução de três para duas faixas em ambos os sentidos.

Estrangulamento de pista no viaduto sobre a avenida Ivaí. Foto: Paulo Henrique Lobato

O alargamento do trecho foi uma das obras vitoriosas na votação de um dos Orçamentos Participativos da prefeitura na década passada, mas a intervenção não saiu do papel, pois a gestão da rodovia é de competência da União.

Diante de tanta desilusão, enfim, surge uma luz no fim do túnel. A prefeitura protocolou na 10ª Vara Federal em BH, na sexta-feira 8 de setembro, uma ação civil pública contra a União, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) e a Concessionária BR-040 S.A. (Via 040), responsável por parte do Anel.

Na prática, a administração municipal pleiteia a gestão do Anel com os necessários repasses de recursos federais para mantê-lo. Por determinação do prefeito Alexandre Kalil, a prefeitura também ajuizou representação criminal, no Ministério Público Federal, em desfavor do superintendente do DNIT em Minas Gerais, Fabiano Martins Cunha, pelos crimes de homicídio e lesão corporal culposos, prevaricação e não sinalização adequada do Anel. 

Em entrevista coletiva à imprensa, Kalil frisou que tem R$ 600 milhões para obras emergenciais no Anel. “Não é o projeto de R$ 8 bilhões que o Anel precisa de verdade, mas uma ação imediata, para colocarmos um fim nessa onda de assassinatos a que estamos assistindo. Em 2018 teremos eleições e os candidatos a deputado federal por Minas Gerais serão cobrados pelo prefeito de Belo Horizonte”.

A ANTT e a concessionária Via 040 vão aguardar a notificação oficial da Justiça para comentar o caso. A reportagem ainda não conseguiu um posicionamento do Dnit. O portal de notícias www.jornaldopadreeustaquio.com.br não vai se calar diante da negligência do governo federal (não se trata da atual gestão) em sanar os problemas na via.

Vale lembrar que o Anel surgiu como uma rodovia construída em área rural da cidade, no fim da década de 1950. O município cresceu e a via passou a ser, na prática, uma espécie de avenida. Uma das soluções para retirar o trânsito pesado do local é a construção do Rodoanel, projeto que prevê milhões de reais e que, dificilmente, sairá do papel por falta de recurso. Mas também vontade política.