BH já teve Grand Prix de Automobilismo

Você sabia que Belo Horizonte já teve um Grand Prix de Automobilismo?

Pois é. Quem se lembra? Com certeza, poucos. Porque ocorreu em 14 de agosto de 1949. Foi no entorno da lagoa da Pampulha.

foto: internet

Participaram grandes nomes do automobilismo da época, como Chico Landi, o primeiro brasileiro na Fórmula 1. Também o diplomata e automobilista Manuel de Teffé, grande entusiasta de corridas de automóveis e idealizador do circuito da Gávea, que pertencia ao calendário internacional de corridas, além de grandes volantes paulistas, cariocas e mineiros.

A intenção era incluir BH no circuito nacional e, quem sabe, internacional de automobilismo.

As corridas de automóveis estavam incipientes. A primeira corrida de automóveis no Brasil ocorreu em 1908 e era na forma de rally, onde os carros largavam com diferença de cinco minutos. Ás vezes, até sete minutos para esperar abaixar a poeira do carro à frente e, depois, era contabilizado o tempo de cada carro.

Era comum à época se associar os tipos de carros aos seus formatos. Então podemos dizer que até a década de 1950 os carros de corrida evoluíram dos calhambeques, passando pelos “charutos” até as conhecidas “baratinhas”.

Nos circuitos não haviam lugares seguros para o público que se aglomerava ao longo da pista.

No ano seguinte, estes grandes prêmios se tornaram a Fórmula 1 mundial e se especializaram.

foto: internet

Em BH, o palco escolhido foi a lagoa da Pampulha, que abriga o conjunto arquitetônico projetado pelo então jovem arquiteto Oscar Niemeyer na gestão do prefeito Juscelino Kubstchek e inaugurado em 1943.

O conjunto é formado por um cassino, hoje Museu de Arte, com seus mármores e colunas de aço inoxidável, por onde a burguesia se exibiu elegante até 1946, quando o general Eurico Gaspar Dutra proibiu os jogos no Brasil; uma igreja, que ficou quase duas décadas sem consagração pelas autoridades eclesiásticas devido às suas curvas pouco convencionais para um templo católico e os
controversos painéis de Portinari. Também o Iate Clube, em forma de um imponente barco sobre as tranquilas águas da lagoa e a Casa de Baile, onde a alta sociedade se encontrava para grandes festas.

Na década de 1950, a Pampulha foi palco também de várias modalidades esportivas náuticas. Época em que a lagoa era despoluída e permitia esportes no espelho d’água e lazer para a população.

Mas as corridas de automóveis que se tornaram um marco na Pampulha. Conta-se que até o penta campeão mundial Juan Manuel Fangio passou por lá durante o Grande Prêmio Getúlio Vargas, uma prova de longo percurso, passando por vários estados brasileiros e ocorrida em 1941, quando a 1º Guerra paralisou as corridas na Europa.

Na década de 1970 também ocorreram outras corridas de automóveis aos domingos na Pampulha, em um circuito que passava pelas avenidas que contornam o Mineirão, entrava no estacionamento e passava pelo portão principal.

No sábado que antecedia à corrida, à noite, era comum os “boys” disputarem pegas na pista.

A principal corrida deste circuito foi os 500 km de Belo Horizonte, em 23 de janeiro de 1970, vencido pelo corredor Toninho da Mata e que teve participações dos irmãos Fittipaldi, do Boris Feldman, além de outros grandes nomes.

Esta corrida foi marcada por uma tragédia: a morte do piloto Marcelo Campos. O acidente, na verdade, foi no treino realizado no dia anterior à disputa. Por volta das 6h.

Voltando ao Grand Prix de Belo Horizonte de 1949: não houve treinos classificatórios.

Os carros mais potentes largaram na frente. Dizem que houve um desfile dos carros no dia anterior ao longo da avenida Afonso Pena. Belo Horizonte, mais uma vez, confirmou sua triste vocação para tragédias em corridas automobilísticas, pois este Grand Prix foi marcado por dois acidentes. Um deles fatal.

De acordo com a edição do jornal “A Folha da Manha”, de 16/08/1949, já na segunda volta o Alfa Romeo do volante luso-carioca Antonio Fernandes da Silva, que largou em primeiro e foi logo ultrapassado por Chico Landi, entrou desgovernado numa curva, capotou e caiu sobre um barranco.

O veículo pegou fogo. O volante teve a perna esmagada e precisou ser amputada. Logo depois, quando transcorria a quarta volta, o volante mineiro Otacílio Rocha, em disputa com o carioca Gino Bianco, bateu o carro no meio fio, subiu no passeio e, num ato heroico, presenciado por um delegado da prova, desviou de várias pessoas que assistiam à corrida.

Mas o carro se chocou contra um poste, derrubou a estrutura, que o atingiu. O esportista faleceu a caminho do hospital.

Sem mais condições de prosseguir com a corrida, devido ao tumulto de pessoas que invadiram a pista, o chefe de polícia Campos Cristo determinou que a mesma se encerrasse em sua oitava volta, restando duas para o final.

Mesmo assim a prova foi validada e teve como vencedor Chico Landi. Em segundo, Francisco Marques. Ambos eram paulistas.

No dia seguinte à corrida, os prêmios foram entregues aos vencedores, até o sexto colocado.

Rendemos homenagem a estes pilotos precursores do automobilismo brasileiro e sem os quais o Brasil não escreveria seu nome na história do automobilismo mundial.

Até a próxima!

Leia outras colunas de José Lúcio Bonani

Os fantasmas da nova capital

A noite em que taxistas salvaram JK