Toninho, sentimos sua falta

A pipoca nunca mais será a mesma na porta do colégio Padre Eustáquio, onde um senhor boa-praça ganhou a vida, por 30 anos, estourando e temperando grãos de milho enquanto proseava com adultos e crianças. Desde 30 de julho de 2017, todos sentem falta de Toninho, o pipoqueiro mais querido da região.

Toninho adorava reunir a família.

Antônio Silva Nascimento tinha 57 anos de idade quando um ataque fulminante o levou para o céu. Há quem diga que um dia ele ainda será nome de rua ou praça no Padre Eustáquio, bairro que amava como se fosse uma daquelas cidades do interior de antigamente.

Afinal, o pipoqueiro colecionava amigos. Eram milhares. Toninho morava no Barreiro, mas sua alma era padreeustaquiana, como são chamadas as pessoas que nasceram e jamais se mudaram do bairro. “Gostava tanto daqui que eu dizia que o umbigo do meu marido estava enterrado no Padreco”, contou dona Idelza Fernandes de Souza, de 47 anos.

O casal se conheceu num pagode em Venda Nova, onde Toninho, claro, foi lá negociar pipocas. Esforçado, começou a trabalhar na adolescência. Foi baleiro na porta do antigo cine Progresso, hoje uma academia, e na do desativado clube Esparta.

Não havia tempo ruim para o homem. Aliás, ele jamais teve escolha: era o terceiro de nove irmãos. Precisou ajudar nas despesas de casa desde pequeno. E honrou a confiança depositada pelos pais.

Toninho também foi pai. Deixou um filho, Mithcel, que mora na França. Deixou ainda um vazio enorme na porta do colégio. Muitos clientes que ele viu chegar com as mochilas nas costas, hoje, são pais de alunos. Ao longo de 30 anos, o pipoqueiro acompanhou gente pequena crescer e se graduar em medicina, direito, letras, jornalismo, arquitetura etc.

Ao lado da esposa, em festa no colégio Padre Eustáquio. Foto: colégio Padre Eustáquio/divulgação

“Eu era uma das primeiras a chegar na escola para buscar meus filhos. Toninho era a minha companhia. Só ele sabia fazer aquela pipoca com sabor mágico. Nunca revelou o segredo a ninguém. E se não tivéssemos como pagá-lo naquele dia? Sem problema. Ele anotava! Hoje, quando chego ao colégio sinto um vazio. Falta algo naquele espaço. Que Toninho esteja alegrando todos lá no céu com sua pipoca e seu sabor inigualáveis”, disse Débora Martins Serpa.

Hoje ela vê um garoto no comando do carrinho de pipoca. Trata-se de Gabriel, que assumiu o posto do tio. Dedicado, o jovem ajuda a tia a manter viva a tradição da família. “A saudade dele é grande. Era um homem maravilhoso”, repetiu o sobrinho.

Toninho não foi só um pipoqueiro de mãos cheias. Foi um cristão devoto do beato Eustáquio. Quem conta é dona Elizete Correa, de 52 anos: “O domingo do meu irmão era sagrado. Fazia questão de sair do Barreiro para assistir a missa no santuário dos Sagrados Corações”.

Tão devoto do beato que, por uma questão do destino, o coração do pipoqueiro bateu pela última vez no domingo 30 de julho. O católico que mora no bairro sabe bem a importância da data para os fiéis da paróquia: “Todo dia 30 é dia de Padre Eustáquio”, reforça dona Idelza.

Mas um ataque fulminante ignorou a data. Toninho partiu às 15h40, quando se preparava para ir à missa das 16h. Em poucos minutos, a notícia da morte se espalhou pela região. Causou comoção nas redes sociais e na vida real. Uma multidão fez questão de ir ao cemitério da Paz.

Homem especial, o corpo de Toninho foi sepultado debaixo de um florido ipê-roxo.