Por mais arte e menos pichações

O que era feio deu lugar a arte. Graças a um artista que usa o talento para transformar muros de casas e comércios numa espécie de imensas telas grafitadas. Alguns dos centenas de painéis criados em Belo Horizonte por Ricardo Ferreira Pimenta Júnior, de 35 anos, estão no Padre Eustáquio, onde ele mora, e nos bairros vizinhos Carlos Prates e Caiçara.

Mais do que desenhos, o trabalho de Júnior é uma semente que pode inspirar pichadores a migrarem para o graffiti, como os artistas preferem escrever. “No fim de 1999, eu era pichador, assim como mais de 90% dos grafiteiros. Conheci o trabalho de grupos como o Crazy Boys e o Jetz, ambos de BH, e me tornei grafiteiro”.

Pintura em muro no Carlos Prates.
Crédito: Paulo Henrique Lobato

As obras de Júnior estão “expostas” em movimentados corredores da região, como no imóvel 1.290 da rua Padre Eustáquio, no bairro Carlos Prates, onde funciona o restaurante Bacalhau Brasil. Ele usou diversas cores para dar mais brilho ao muro, que fica em frente a um ponto de ônibus. A proprietária, Neide, faz a seguinte análise sobre a estrutura: “Certamente estaria toda pichada se não fosse a pintura”.

No mesmo quarteirão, no número 1.246, Júnior grafitou um homem com uma flauta debaixo do braço esquerdo. Pouco adiante, na rua Santa Quitéria, o grafite na parede externa do primeiro andar foi batizado de Outono/Outroano. O colorido é um contraste ao marrom pichado no segundo pavimento.

“O grafite me liberta. Acaba com o estresse. Está no sangue. No começo, eu pintava no estilo duas cores, em letras. Depois comecei a ter nova pegada, mais artística. Desenvolvi uma linha de conceito, que é o do equilíbrio. Temos uma vida corrida e tento transmitir a mensagem para que a pessoa ache o ponto de equilíbrio”, explica Júnior.

“Outono/Outroano” é o título de uma das obras. Crédito: Paulo Henrique Lobato

Júnior pinta a natureza e personagens místicos, entre outros. E, claro, ganhou uma caricatura de si próprio como presente de aniversário: “Foi do amigo Testa”.

Quem desejar entrar e contato com Júnior pode enviar um zap para o número (31) 97502-1416. Os trabalhos também podem ser vistos no Instagram: @junior_wildstyle.

A lei 9.605 diferencia a pichação do grafite. O artigo 65 destaca que “pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano” pode render ao autor uma pena de 3 meses a 1 ano, além de multa. “Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 meses a 1 ano de detenção e multa”.

Por sua vez, o parágrafo segundo do mesmo artigo esclarece que “não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional”.

 

 

 

 

Painel feito na rua Riachuelo, no Padre Eustáquio. Ricardo Júnior/divulgação

Presente do amigo Teste, caricatura do artista. Ricardo Júnior/divulgação