Da série “Eu amo o Padreco”: dona Isabel, colecionadora de histórias

Vaidosa e fã de boa prosa, dona Isabel Brígida Diniz Moreira coleciona mais que sorrisos e amizades. Guarda consigo histórias que aguçam saudades em muitos moradores antigos do Padre Eustáquio. E curiosidades nos mais novos.

 

Dona Isabel coleciona histórias. Foto: Paulo Henrique Lobato

Aos 94 anos de idade, a mineira de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, chegou ao bairro há quase quatro décadas. “Um lugar maravilhoso para viver”. Tanto carinho pela região faz dela a primeira personagem da série de reportagens “Eu amo o Padreco”, que o portal Jornal do Padre Eustáquio publicará, a partir de agosto e uma vez por mês, para valorizar tanto a comunidade quanto o bairro que homenageia o beato europeu.

Dona Isabel se mudou para o Padreco, em 1981, na companhia do marido, seu Élcio, e da filha, Alessandra. O primeiro pouso do trio foi no Conjunto Santos Dumont, um dos mais antigos da capital, próximo de completar meio século e conhecido como o pulmão verde do bairro, devido a quantidade árvores.

Lá há palmeiras imperiais, coqueiros e outras espécies frutíferas que atraem famílias de maritacas, sabiás e ben-te-vis. Dona Isabel ouviu muitos cantos. E perdeu a conta de quantas amizades fez. O conjunto reúne aproximadamente 4 mil habitantes. Na prática, é uma pequena cidade com 45 prédios e quase 786 apartamentos.

“Naquela época, não havia a cerca no entorno do Santos Dumont. As ruas não eram fechadas. Não tinha também as (quatro) portarias”, recorda a ex-moradora, que ficou no conjunto até 1997. A temporada no Santos Dumont foi recheada de alegria, mas uma tristeza marcou a vida dela: a perda do companheiro.

Seu Élcio partiu em 1989. Oito anos depois, em 1997, dona Isabel partiu para nova moradia no bairro: “Fui para a rua Francisco Bicalho”. A via homenageia o urbanista que assumiu a chefia da comissão construtora de BH, em 1895, após a exoneração de Aarão Reis.

Dona Isabel morou na Francisco Bicalho por mais de uma década. A rua não é muito distante da praça Geraldo Torres, cartão-postal da região. Lá havia uma fonte d’água, retirada em abril de 2000. Desta forma, a geração abaixo dos 18 anos não conhece – a não ser em fotografias – o monumento de onde se jorrava água no coração do Padre Eustáquio.

(Para anunciar no Jornal impresso ou no site: (31) 98477-7179)

Os mais novos também não conheceram os quatro cinemas que existiam na rua Padre Eustáquio: o Progresso, onde hoje é uma academia, e o Padre Eustáquio, que funcionava ao lado da igreja, ficavam em territórios do bairro. Já o São Carlos e o Azteca, no trecho da rua que pertence ao Carlos Prates.

“A própria rua era bem diferente de hoje. Era mão-dupla e os carros não podiam estacionar”, recorda dona Isabel enquanto mostra, orgulhosa, o par de brincos. “Gosto também de batom e colar”, conta.

Ela adora se manter bonita tanto quanto os passos de valsa e bolero que encantam as amigas nos bailes que frequenta no Orion e no Sesc, ambos no Carlos Prates. E se lá alguém a perguntar o porquê do nome Isabel, ela responderá: “Uma homenagem à minha avó materna”.

Hoje é a neta dela, que mora na Hungria, que a homenageia: esta série surgiu de uma ideia de Ana Luisa, que entrou em contato com o Jornal do Padre Eustáquio sugerindo uma reportagem com a avó, a mulher que coleciona sorrisos, amizades e histórias.

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