Padre Eustáquio, santo beato

As lágrimas são testemunhas de como a dentista Patrícia Costa, de 34 anos, enfrentou uma gravidez de risco para garantir a chegada de Júlia. Já a angústia acompanhou Terezinha dos Santos, de 69, enquanto o caçula, vítima de meningite, esteve em coma. Por sua vez, a preocupação foi como uma sombra para o vigilante Ronaldo Dias, de 55, até ele conseguir retornar ao mercado formal de trabalho.

Histórias diferentes, mas que se convergem na fé em Padre Eustáquio, o beato que saudava os fieis com o lema “saúde e paz”. Patrícia, Terezinha e Ronaldo venceram com a bênção do europeu. E fazem parte da multidão de fieis que esta semana peregrinam no santuário dos Sagrados Corações, onde os restos mortais do religioso estão sepultados. 

Patrícia e a filha Júlia: a fé no beato é antiga. Foto: Isabella Souto

Humberto van Lieshout, nome de batismo do holandês, chegou BH em 7 de abril de 1942, quando o bairro era a vila Celeste Império, e foi morar com Deus em 30 de agosto de 1943. Lá se vão 64 anos. Desde então, a fé nele aumenta cada vez mais. Oficialmente, o Vaticano o reconheceu como beato em 2006. Para os fiéis, contudo, Eustáquio já é santo.
Diante das imagens do religioso, católicos dobram os joelhos e rezam. Pedem intervenções junto a Jesus e agradecem graças alcançadas. É o caso da odontóloga Patrícia. Ela frequenta as missas aos domingos na companhia do marido, o funcionário público Cristiano Victor Fortunato, de 35, e da pequena Júlia, de 1.
“Tive uma gravidez complicada, mas hoje a Júlia está aí, linda e bagunceira”. Patrícia tentou engravidar durante 16 anos. Quando finalmente o Beta HCG (exame de gravidez) deu positivo, ela correu risco do aborto involuntário, devido oscilações na pressão arterial.
Mas a fé no beato foi mais forte: “Vim à igreja várias vezes me arrastando. Com a ajuda dele, a gravidez foi até a semana certa. Júlia nasceu saudável”.
Dona Terezinha também se emociona ao falar do beato. “Minha mãe acompanhou o enterro dele. Fui batizada, fiz a primeira comunhão e crismada nesta igreja”, disse. Uma das formas de agradecer a bênção recebida é ser voluntária, em todo 30 de agosto, quando reforça a equipe do “Posso ajudar?” – pessoas que se dispõem a orientar os fiéis no santuário.
Há 15 anos, ela pediu a interseção de Padre Eustáquio e a de Santa Terezinha – de quem o beato era devoto – ao ouvir dos médicos que o caçula estava em estado grave por causa de um quadro que combinava pneumonia, sinusite e meningite. Três dias depois de entrar em coma, ele despertou sem sequelas. A recuperação, acredita ela, teve as mãos do beato.
Anos depois, o mesmo filho foi vítima de infecção grave. Correu risco de perder os movimentos das pernas. Mais uma vez, aflita, mãe sussurrou pedido de ajuda diante da imagem do beato. Os momentos de angústia e orações deram lugar ao alívio.
Além de curado, o rapaz se graduou em educação física. Atualmente, as orações dela são destinadas à saúde do marido, operado por causa de um glaucoma. “Padre Eustáquio vai dar o alívio para nós”, suplicou a aposentada.

As histórias de devoção são muitas. E o que dizer de um fiel que estava desempregado e voltou ao mercado de trabalho justamente prestando serviço na igreja construída por esforço de Padre Eustáquio? “Vim cobrir férias em julho do ano passado. Em outubro, fui registrado. Vejo isso como uma interseção do beato e um presente de Deus”, acredita o vigilante Ronaldo.

A costureira Claudiane Batista da Silva, de 27, também é outra que não mede esforços para agradecer ao beato. Ela pode ser classificada como integrante de uma nova geração de devotos. Há três anos, ela deixou sua terra-natal, Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, e se mudou para o bairro Caiçara. Ouviu do marido histórias sobre Padre Eustáquio e, desde então, frequenta a paróquia.
A história mais conhecida é o milagre reconhecido pelo Vaticano. Em 1962, 19 anos depois da morte de Eustáquio, o padre Gonçalo Belém Rocha, que sofria com câncer na garganta e precisava ser operado com urgência, pediu a interseção do holandês.
O pároco foi internado e, no dia da operação, exames confirmaram que o tumor havia desaparecido. O caso foi submetido ao Vaticano, que reconheceu o milagre em 2006. No processo de beatificação, até o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi ouvido.
O filho mais ilustre de Diamantina atribuiu a gravidez da esposa, Sara, à benção do religioso. O casal havia tentado diversos tratamentos ao longo de 12 anos. 

“Quando Padre Eustáquio veio à minha casa, o recebemos mais por delicadeza do que pensando em um fato extraordinário. Como católico, admito o milagre”, disse o ex-presidente.
Cada fiel que peregrina este semana tem uma história para relatar. Saúde e paz!!! Clique aqui o artigo publicado por Padre Vinícius, responsável pela causa de canonização do beato. Aproveite e clique aqui para ver o vídeo sobre o museu em homenagem à memória do servo de Deus.
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